Coisa bonita de ver
quando se forma a tempestade
a escuridão toma conta
e não demora a enxurrada descer
Vem abundante
descendo, lavando, tomando tudo
não tem como parar, ela impera
alaga, inunda, e leva consigo os destroços
Para trás ficam os sulcos
as marcas
a trajetória plácida e serena
da turbulência recém enfrentada
Fica a alma desnuda
o rosto úmido
o corpo trêmulo
o vazio
E o incrível disso tudo
é que são os sulcos,
as fendas marcadas na pele e na alma,
o berço escolhido para a renovação
A área mais maltratada pela violência da corrente
é também a mais irrigada,
solo fértil e berço do ressurgir.