segunda-feira, 25 de maio de 2009

Um perceber...




Saí de casa como faço todos os dias. O mesmo caminho, quase sempre as mesmas pessoas. E como faço todos os dias, esperei o bendito ônibus no sol... Por minutos eternos a fio. Num de meus rompantes de impaciência (ou mau costume mesmo, como preferir) enrolei pela enésima vez, desde que ali cheguei, meu cabelo e percebi alguns fios enrolados em meus dedos. Soltei-os na brisa leve (leve demais num sol de meio-dia) e observei-os planar até que um ou outro caiu no asfalto, e alguns colaram-se à roupa de alguns passantes. Pela primeira vez, dei-me conta do significado daquilo. Meu DNA, o que me forma, meu todo em uma pequena parte de mim era agora parte da vestimenta de um estranho. Para onde será que ele me levaria? Afinal, ali, naquele fio fino de cabelo, também estava eu. Comecei a pensar então em como deixo partes de mim em tudo. Minhas digitais se espalham por tudo que eu toco e do jeito que eu sou desastrada, não posso dizer que seja pouca coisa! Minha epiderme marca, de células minhas, abraços, encontrões, beliscões, topadas... contatos pequenos... que me disseminam pelo mundo e já não dou conta mais da minha extensão... Posso estar em tantos lugares e mesmo aqui trago comigo tantos (des)conhecidos... Já não bastassem meus microfragmentos espalhados por aí, pensei ainda no que componho de outros modos. Um sorriso que faz parte de uma lembrança distante na memória de alguém... Uma colocação que por algum motivo já fez alguém pensar... a voz que canta a canção que fica... meu gosto na boca e na memória de pessoas que também deixaram seus gostos na minha memória... e as palavras... que entre um verso e outro carregam todo um “DNA do meu sentir” a cada vez que me coloco a escrever... Percebi de verdade e me assustei com a dimensão física e não física de mim. Finalmente compreendi melhor... e literalmente... que eu componho o mundo que me compõe...que existirei enquanto houver um pedacinho, ainda que ínfimo, meu em algum lugar. Talvez planando no vento, ou colado à roupa de um estranho... quem sabe na marca da carícia ou do tapa. E quando todos eles finalmente se extinguirem, me farei presente, eternamente, na memória daqueles que também compus.

4 comentários:

Lucas Lima disse...

Gostei dos teus escritos, que tmb são uma impressão deixada no pensamento de quem lê, né? rs
Boa semana.

Pequena Poetiza disse...

fiquei bestaiada maininha
que coisa linda.
ter a dimensão de nós assusta mas conforta perceber que somos além desse corpo matéria
a gente está bem além de nós mesmos e ver isso é ver o além do outro e ter um pedacinho de cada um que se ama como tb constituição de nós.


beijos

Unknown disse...

Que falta do que fazer hein! Ficar olhando onde meu cabelo vai cair... isso é coisa se filósofo!

hsuahsuashashaus

Brincaderinha... Adorei o que escreveu, vai estar eternamente em mim, alias, estarás eternamente em mim, em tudo que faço tem um pouco de você. Talvez essa seja a maldição que me abençoa!

bjo

tinhamo

Lili disse...

Uau Raio! *.*
Talvez seja essa a forma das pessoas se imortalizarem...
irem se deixando pelo caminho para assim se juntarem com o todo.
E se cada vestígio deixado num mergulho ao mar já será capaz de firmar a imortaliadade de um ser que um dia ali se fez presente... imagine como abraços podem ser capazes de repercutir na vida da pessoa os recebeu?

Te adoro demais mocinha!
Beijo!
Lili.